O queijo do marajó conquistou a Indicação Geográfica (IG), reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A publicação foi feita no fim do mês passado na Revista de Propriedade Industrial e concede ao produto, genuinamente marajoara e paraense, a indicação de procedência.
Uma grande vitória dos produtores e do estado do Pará. A IG é a única propriedade industrial coletiva, benefício que se estende a todos os produtores do queijo feito com leite de búfala (respeitados os padrões que classificam o queijo do marajó) dos municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure.
Essas cidades integram o Arquipélago do Marajó, mais especificamente, os chamados Campos do Marajó, Microrregião do Arari, Mesorregião Marajó, no estado do Pará. Ou seja, a partir de agora, só pode ser chamado de queijo do marajó o queijo que for produzido nessas localidades.
“Essa titulação agrega valor aos produtos, traz renda e desenvolvimento com sustentabilidade em cadeia, pois abraça muito mais que o queijo, mas toda uma cultura regional”, diz Adriano Venturieri, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, para quem o fortalecimento da política da IGs da Amazônia é um importante caminho à valorização dos produtos e da biodiversidade da região.

Tradição familiar
A obtenção da IG beneficia pessoas como o casal Cecília e Marcus Pinheiro, produtores do Queijo do Marajó Fazenda São Victor, primeiro do Estado do Pará a obter o Selo Arte, que autoriza a comercialização interestadual do produto e dá garantia de qualidade.
O queijo da São Victor coleciona várias medalhas de ouro em competições nacionais e em 2019 conseguiu uma de prrata”, na quarta edição do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, realizado na França, com participação de 952 produtos lácteos de 15 países.
Cecília e Marcus iniciaram a produção de queijo em 2006, mas são a nona geração de uma família de queijeiros de Salvaterra. “Temos anotações de vendas da minha bisavó, em que comprovam que, em 1922, já trabalhavam com a produção queijeira voltada para vendas”, conta Cecília.
A Embrapa tem grande responsabilidade na modernização dessa história secular, trazendo novos conhecimentos para a cadeia produtiva do leite de búfala, com foco em tecnologias para o melhoramento genético dos animais, aliado às boas práticas em sanidade e alimentação.

Possiblidade de crescimento
O Pará possui o maior rebanho bubalino do país, com cerca de 520 mil cabeças, quase 40% do rebanho nacional. O Marajó se destaca nesse cenário como o maior número de animais, segundo dados da Pesquisa da Pecuária Municipal/IBGE (2018).
Desse contingente, apenas cerca de 5 mil animais do Marajó são dedicados à produção de leite, com produtividade média de 5 quilos/dia por animal e quase 100% da produção destinada à produção de queijo. Mas a produção média pode aumentar.
Segundo o pesquisador Ribamar Marques, coordenador do Programa de Melhoramento Genético de Búfalos com Inovação para o Estado do Pará (Promebull), por meio das tecnologias de boas práticas de manejo animal, manejo alimentar e nutricional, manejo sanitário e melhoramento genético, espera-se até triplicar a produção média de leite por animal exatamente nos municípios beneficiados pela IG.
“Com búfalas de genética superior, aumenta a produtividade de leite por animal reduzindo os custos para os produtores familiares que podem ter sua produção e renda triplicada, com um menor número de animais no pasto”, enfatiza o pesquisador, dando esperança de que no futuro será mais fácil (e mais em conta) saborear essa delícia paraense em qualquer parte do Brasil.